terça-feira, 1 de junho de 2010

Uma Ficção

 

[Ano]

 


 


 

Moacir


 


 

[2010]


 


 


 


 


 

Vida no Futuro

Conteúdo

Capítulo I    4

Capítulo II    8

Em São Paulo.    8

Capítulo III    10

A prisão    10

Capítulo IV    10

A cela.    10

Capítulo V    11

Notícias.    11

Capítulo VI    12

A fuga.    12

Capítulo VII    12

Conclusão    12


 


 


 


 


 


 


 


 

Capítulo I

  1. Uma moça jovem, morena cor de cuia, bonita e com olhos verdes, cabelos lisos e interessada apenas em arrumar a casa de seu patrão, um pacato cidadão que passava as horas em frente ao computador a escrever bobagens científicas sem nenhum valor.
  2. O homem, um brasileiro gordo, que estava se esforçando para emagrecer e parar com o tabaco, era um homem solito, não tinha ninguém na vida, senão seus dois filhos, sua irmã e seus pais, mas nenhum deles morava ali, ele morava só, os pais já velhos e adiantados em idade. Estavam os dois a conversar e tomar chimarrão, enquanto ele lia entre as pausas um livro: uma Bíblia muito antiga e com as páginas amareladas e rasgadas, uma relíquia, enorme e cheia de gravuras.
  3. Como disse, estavam ali a conversar enquanto ele lia, na casa do homem.
  4. Repentinamente veio um vento forte e começou a chover lá fora.
  5. Lá fora os pingos da chuva ressoavam na calçada e no telhado da pequena casa com força e ela preocupada disse:
  6. – Já vou tocando o meu barco senão vou me molhar!
  7. – Não, fique mais um pouco, eu quero conversar mais um pouco.
  8. – Está bem. Eu fico, mas daqui a pouco já vou, pois tenho que lavar roupas em casa e fazer a limpeza...
  9. Nisto as páginas da Bíblia começaram a girar rápido, como se estivessem sendo folheadas por uma batedeira elétrica.
  10. O homem assustou-se e quando foi dizer a ela o que seria isso, olhou e já não mais a enxergou.
  11. A Bíblia era folheada para frente e para trás. E sem nem perceber estava ele lá dentro dela, junto com a mulher, as páginas a serem folheadas cada vez de modo mais rápido.
  12. Nisto era como se alguém jogasse toda a água da chuva sobre eles, e estavam molhados como cachorrinhos.
  13. Não parava, pois as páginas vibravam, a chuva aumentava, e aquele zumbido como que de uma batedeira elétrica.
  14. Iam para frente e para trás, perdiam-se um do outro e encontravam-se novamente mais adiante, nas páginas seguintes.
  15. Isso durou uns cinco minutos. Repentinamente ambos saltaram como que para um grande armazém, com telhado industrial, vazio e foram ambos jogados contra um homem jovem, vestindo um jaleco parecido com o dos médicos, ele segurava em uma mão uma coisa que parecia ao mesmo tempo uma batedeira de ovos, mas que na ponta jogava água como uma mangueira e que girava muitíssimo rápido. Esta "coisa" estava ligada a uns fios muito longos e sobre um meio pilar estava um livro cujas páginas giravam quando ele fazia funcionar a máquina. Devia ser um livro de plástico, pois as folhas eram revolvidas e não se desmanchavam, e este livro tinha páginas por baixo e por cima, como em um cilindro.
  16. Ele era alto, cabelos pelos ombros, louros, cara quadrada, um sorriso enorme (uma bocarra), parecia um professor de Universidade, usava aparelho odontológico e logo atrás dele estava uns equipamentos que se presumia ao ver serem industriais.
  17. Com o choque ele caiu desmaiado, perdeu um anel de ouro muito brilhante, com pedra vermelha, maior que os anéis comuns, com uma abertura embaixo da pedra, e era cheio de botões. O homem, estupefato, e meio zonzo com tudo aquilo olhou para ela e disse:
  18. – Olha este anel – pegando – o que será?
  19. A máquina, a "batedeira", que mais parecia uma metralhadora, ligada a enormes fios e cabos elétricos, havia caído ao seu lado, a uns dois passos do homem e continuava a girar. Nisto ele se acorda do choque e quando vê nosso personagem a observar o anel diz:
  20. – Não mexa nisso...
  21. Porém, já era tarde. A moça e o homem gordo estavam curiosos com o anel e nisso ele aperta um de seus botões laterais...
  22. Imediatamente as máquinas fizeram um barulho eletrônico (FIUUUUUMMMMM)... E o professor desapareceu em um "buraco negro" e sumiu no espaço.
  23. Logo estava ele de volta, com o mesmo barulho característico (FIUUUUUMMMMM) e disse:
  24. – Que bom que eu tenho um como reserva.
  25. Porém enquanto eles olhavam apavorados para este "professor" ou "cientista maluco" ele pegava a "batedeira metralhadora de água" e começava a falar-lhes:
  26. – Eu estudei demais. Enlouqueci!
  27. – Bem se vê – disse a moça...
  28. – Eu precisava de duas pessoas para viajar por mim ao futuro...
  29. – E escolheu justamente a nós dois? – indagou o homem gordo que agora acendia um cigarro de seu bolso.
  30. – Devolva-me o anel – disse o "professor maluco", ainda segurando a "coisa que jogava água naquele estranho livro.
  31. O homem gordo foi entregar o anel e sem querer apertou um de seus botões e novamente o "cientista maluco" desapareceu em um FIUUUUUMMMMM, num buraco negro, mas como estivesse segurando a coisa – a batedeira metralhadora de pingos de água, esta foi puxada violentamente, junto com ele, e como estivesse ligada a enormes e grossos fios encapados com borracha, puxou uma daquelas máquinas que estavam atrás do homem e esta se desligou da parede e, provavelmente, da tomada de força, apagando-se sendo que então o homem não voltou mais.
  32. – O que será que acontece se eu apertar este botão verde? – disse a moça, brincando...
  33. – Não brinque, acho melhor a gente não mexer em nada enquanto ele não voltar.
  34. – Onde nós estamos? – perguntou a moça!
  35. – Será que é longe de minha casa? – perguntou o homem gordo.
  36. – Vamos dar uma olhadela – sugeriu ela.
  37. Foram. Havia uns portões enormes, de metal no galpão industrial, e eles se aproximaram das frestas entre os dois portões e espiaram. Lá fora o sol brilhava calmo e pacífico, e nada deixava transparecer que eles estivessem em uma grande enrascada. Era um bairro industrial de alguma cidade grande... Havia uma rua e ao lado uma fábrica, um edifício antigo, com tijolos à vista pintados de branco, e umas chaminés de onde saía preta fumaça, indicando atividade humana.
  38. E agora, disse brincando o homem gordo, o que "nóis faiz"?
  39. Enquanto deliberavam nervosamente sobre o que fazer, pois nem podiam abrir o portão para sair e nem tinham condições de ficar ali molhados como estavam, não perceberam que continuava ligado um dos monitores da máquina que se desprendera da parede. Neste monitor um homem igualzinho ao "cientista maluco" esbravejava e gesticulava desesperadamente para eles, mas eles não percebiam, pois o fazia em silêncio.
  40. – E agora, como é que eu vou embora? Vamos gritar talvez passe alguém na rua e aí a gente pede ajuda – disse a moça...
  41. Ela olhava por entre as frestas do portão, mas infelizmente ninguém passava na rua.
  42. O homem gordo, desesperado, sentou-se no chão e ficou ali inerte a pensar. Falou:
  43. – E se a gente ligasse a máquina de novo?
  44. – E cair nas mãos daquele maluco? – respondeu ela um tanto desesperada.
  45. Infelizmente o salão ou galpão industrial estava completamente vazio, a não ser as máquinas do cientista maluco. Estas estavam em um canto e não se divisava com a pouca luz que ali entrava: saídas, era fechado e havia só aquele portão.
  46. Vendo uma pequena porta, ele decidiu ver onde dava. Entrou, era um banheiro, simples mas muito limpo, porém sem nenhuma saída. Voltaram à máquina.
  47. O livro estava parado e ela ainda espiando para ver se passava alguém na rua. O dia já começava a declinar, e as nuvens no céu prenunciavam tempo de chuva. Chovia em todo o país, segundo a previsão meteorológica.
  48. Pegando o anel, que o homem gordo havia deixado em cima da máquina, ela resolveu experimentar e começou a apertar botões, uns atrás dos outros. Nada aconteceu.
  49. – Acho que devemos religar a máquina – disse o homem gordo.
  50. – É, e se aquele maluco volta aqui e nos manda para o quinto dos infernos?
  51. – Ele disse que precisava de duas pessoas que viajassem ao futuro por ele. Por que será?
  52. Nisto ouve-se uma voz vinda da máquina.
  53. – Olhem aqui, prestem atenção, façam tudo o que eu disser que logo, logo eu estarei aí de novo!
  54. – Deus me livre – disse a rapariga.
  55. – Tenham calma, e não mexam em nada sem minhas ordens – disse o cientista maluco.
  56. – Não vamos mexer nem sem suas ordens e nem com suas ordens! – retrucou o homem gordo. Queremos voltar para de onde viemos. Trate de desfazer o que fez senão eu lhe meto um processo.
  57. – Isso é uma barbaridade, tchê! – retrucou a moça.
  58. Enquanto isso o cientista maluco falava sem parar, dizia que eles dois haviam sido escolhidos para viajar ao futuro no lugar dele e que ele precisava reescrever o livro.
  59. – Que livro? – perguntaram os dois em uníssono.
  60. – A Bíblia.
  61. – A Bíblia? – disseram os dois mais espantados ainda.
  62. – Por quê? – disse o homem gordo. A Bíblia não pode ser modificada!
  63. – Esse cara está maluco, doidão! – retrucou a moça.
  64. – Reescrever não é exatamente o termo. Completar. A Bíblia foi escrita há dois mil anos atrás e vem sendo escrita e reescrita com o passar dos séculos. Porém as profecias já se realizaram todas. Precisamos de mais profecias! Precisamos predizer o futuro. E eu encontrei um meio, só preciso que me contem o que foi que aconteceu no futuro, daqui a dois mil anos no futuro...
  65. – Está louco! Jesus ainda não voltou e por isso nem todas as profecias foram cumpridas... Por que um idiota resolve predizer o futuro e a gente aqui molhado que nem um cachorrinho, com frio, cansado e ainda tendo que suportar estas asneiras. Pra que você quer predizer o futuro? Que tem lá que seja tão importante assim?
  66. – Estou preocupado com o futuro! – responde o "professor maluco". E num sorriso largo e inocente ele completa:
  67. – Acontece que no ritmo e rumo em que estão indo as coisas a humanidade corre sérios riscos. Só consegui viajar uns vinte anos para o futuro e não vi coisas muito boas lá... Se pudéssemos viajar uns dois mil anos, e agora sei como se faz, vocês podem ir e voltar em segurança – diz abrindo o sorriso de bocarra.
  68. – Mas por que você mesmo não vai? – pergunta a moça...
  69. – Boa pergunta – acrescenta o homem gordo...
  70. E dando uma gargalhada enorme como sua enorme boca, o cientista maluco diz:
  71. – Por que eu tenho que controlar tudo daqui, a máquina, o tempo, o lugar etc... É um "trabalho em equipe."
  72. – Pagando bem, que mal tem? – diz a moça se rindo.
  73. – Eu estou fora – diz o homem gordo.
  74. – E se conseguirmos sucesso cem por cento, eu publico o que será o futuro e então poderemos prevenir os desastres que estão por vir.
  75. – Se conseguirmos? – fala o homem gordo.
  76. – Então não é cem por cento? – diz a moça.
  77. – É que se vocês viajarem para o futuro estarão sujeitos a tudo o que acontecer lá.
  78. – Uma guerra nuclear, por exemplo? Um regime autoritário e despótico? Um cataclisma qualquer? – pergunta o homem gordo.
  79. – Prefiro ficar bem onde estou! – diz a moça.
  80. Nisto lá fora começa a chover forte e já era quase noite. A chuva era tão forte que a rua em frente ao galpão começou a encher-se de água, cada vez mais.
  81. – Aquilo lá fora está ficando um rio. Acho melhor a gente dar um jeito de sair daqui.
  82. Nisto o "cientista maluco" aparece novamente em um FIUUUUUMMMMM e se coloca ao lado de ambos. Começa imediatamente a religar todo o equipamento.
  83. – Por favor, deixe-nos sair daqui e voltarmos para nossas casas!
  84. – Vocês dois não têm escolha! – diz o cientista maluco apertando um botão de seu anel, sorrindo e saboreando um doce muito gostoso.
  85. Nisso os dois são jogados para dentro do livro e este começa a girar, a "batedeira, metralhadora de pingos de água" começa a jogar água sobre eles novamente e eles se perdem no meio das páginas, num futuro incerto.

Capítulo II

Em São Paulo.

  1. O homem gordo saboreava uma coxa de galinha, enquanto a moça, já acostumada à nova situação, comia um pastel. Estavam numa praça muito linda, sentados em um banco de concreto, a observar o que se passava em volta. Conversavam baixinho, para não dar na vista. A cidade, souberam, era São Paulo.
  2. As coisas tinham mudado muito. São Paulo era uma cidade limpa, o rio Tietê fora recuperado, havia muitos parques e árvores, e os veículos eram silenciosos e muitíssimo parecidos com os veículos de nosso tempo. Eram elétricos.
  3. Porém eles tomavam cuidado, porque souberam que havia uma "polícia secreta" que a tudo e a todos governava.
  4. Pelo que souberam o governo era mundial. E não era brasileiro. Souberam isso lendo um jornal que estava jogado no lixo...
  5. O homem gordo, vestindo uma roupa simples, camisa xadrez, calças de brim, sapatos e usando um chapéu de palha, andava pelas ruas há uns dois dias com a moça a procura de lugar para ficar. Porém, como tivessem medo desta polícia secreta, não indagavam das pessoas como poderiam se instalar em alguma pousada. Quando foi remetido para o futuro o homem gordo já era aposentado a muitíssimos anos e não teria condições de trabalhar novamente. Por isso, conseguiram o lanche em um pequeno restaurante e com umas notas de dólares que haviam aparecido em seu bolso misteriosamente. Em seu bolso, também, havia um bilhete com um endereço, dizendo: Vão para este endereço.
  6. As pessoas andavam caladas nas ruas e poucas se importavam em ajudá-los. Havia muitíssimo poucas pessoas nas ruas... Perguntaram a alguns passantes onde ficava o tal endereço e não encontraram quem respondesse inicialmente. Até que um homem bem vestido, trajando um paletó e gravata, com uma pasta na mão, atendeu-os e indicou-lhes um táxi.
  7. Com poucos dólares no bolso, entraram e então perguntaram ao taxista onde ficava tal endereço.
  8. O homem do táxi disse que não era muito perto, mas ficava a aproximadamente meia hora de viagem.
  9. Ele perguntou quanto custava, mais ou menos, a viagem, para ter uma idéia de quanto poderia gastar e se o dinheiro seria suficiente.
  10. Foram.
  11. Lá chegando, quem encontram?
  12. Um homem da mesma estatura do homem gordo, muitíssimo parecido com ele, de uns quarenta anos, magro, bem vestido e que ao ver o homem gordo se apavora e abraçando-o efusivamente brada:
  13. – Papai! Papai?
  14. E começa a chorar e rir, sem saber o que dizer...
  15. – Papai? – pergunta o homem gordo.
  16. – Como você aparece assim tão de repente, por que foi embora? Por que sumiu? Mas como você não envelheceu? Continua o mesmo, até o cabelo está mais escuro que o meu?
  17. – Quem é você? – pergunta o homem gordo.
  18. – Sou seu filho, não se lembra de mim? Seu filho mais novo! – e o rapaz começa a passar mal, pensando que está vivendo um sonho! – Você nos traiu a todos fugindo com essa sirigaita. Por onde andou todo este tempo? E como me encontrou aqui?
  19. – Sirigaita, sirigaita, olhe lá! – respondeu a moça! Olha o respeito! Cuidado que lhe largo uma bolacha na cara!
  20. – Calma querida! Devemos estar no futuro, um futuro não muito distante, ao contrário do que nos prometera aquele maluco. Alguma coisa deve ter dado errado. E como ele sabia o endereço de meu filho?
  21. – Ele deve ter planos... – respondeu a moça.
  22. – OU! – disse o homem gordo com reticências ao final da exclamação...
  23. – Ou o quê?
  24. – Ou há mais alguém nesta história.
  25. – Mais alguém? – perguntou a moça.
  26. – Alguém que também tenha vindo ao futuro ao mesmo tempo em que nós viemos. Alguém que saiba disso tudo que estamos passando.
  27. – Que idade você tem meu filho?
  28. – Tenho quarenta anos de idade, meu pai! – e enquanto acrescentava coisas e dados a seu próprio respeito, pedia que o homem gordo e a moça entrassem em sua casa, aliás, uma casa muito bela, em um jardim muito belo, em um bairro aconchegante.
  29. – É perigoso ficar aqui fora. A polícia secreta não admite conversas a estas horas da noite em lugares públicos.
  30. – Que lugar é este, querido?
  31. – Como que lugar é este? O que quer dizer com isto?
  32. – Em que cidade e que estado estamos?
  33. – Ora, estamos em São Paulo, a capital.
  34. – Engraçado, todos diziam que São Paulo era uma cidade poluída e ruim de viver, mas como vejo, está tudo mudado e você está muito bem de vida. Este deve ser um bairro rico! E você deve estar rico! Que bom que seguiu meus conselhos!
  35. Passaram horas conversando e o homem gordo evitou falar sobre o que estava acontecendo com ambos, ele e a moça.
  36. – Quando você sumiu, pensamos que tivesse fugido, procuramos por toda a parte. Depois vieram os parentes da moça, sua empregada, a querer saber se não a tínhamos visto. Chegamos à conclusão de que vocês haviam fugido juntos para viverem o seu caso de amor...
  37. – Não foi nada disso, rapaz. Estou só há dois dias com ela!
  38. – Dois dias! E já se passaram 24 anos desde que me perdi de vocês... – acrescentou o filho do homem gordo.
  39. – Vou lhe contar toda a verdade! – disse o homem gordo.
  40. E explicou ao filho tudo o que ocorrera nos dois últimos dias.
  41. – Vinte e quatro anos! – e você aparece, sem ter envelhecido, como se fosse ontem, no dia de meu aniversário, que foi quando você sumiu. Deve ser verdade! Eu acredito. Tem acontecido tanta coisa impensável que eu acredito!
  42. E conversando vieram lembranças de dois dias antes, para nossos heróis, e vinte e quatro anos atrás, para nosso quarto personagem.

Capítulo III

A prisão

  1. Dormiram uma boa noite, em quartos separados, ainda que o homem gordo quisesse muitíssimo dormir com a empregada, ela não o quis. Ele estava tão inseguro, querendo voltar à sua época e lugar, como seria o certo – pensava ele – e não queria ficar longe dela, mas por mais que insistisse ela não quis dormir no mesmo quarto.
  2. De manhã, após a refeição, o filho disse que deveria ir trabalhar, cedinho, lá pelas 8 horas da manhã. Que eles dois teriam que ficar com sua esposa e filha, que elas lhes dariam tudo o de que precisassem e que não inventassem de sair à rua.
  3. Porém, lá pelas 9 horas da manhã, alguém bateu à porta.
  4. – Sou o Inspetor de Polícia. Soubemos que vocês receberam visitas ontem à noite.
  5. – Sabemos que é proibido receber visitas não autorizadas aqui no Campus. Mas não recebemos ninguém. – disse a esposa do rapaz.
  6. Porém, o homem gordo, que não sabia quem era, foi ver quem era e então ficou patente que eles tinham recebido visitas...
  7. – Aí está, aí está quem procuramos. Quem é o Sr.? – perguntou o Inspetor.
  8. – Sou pai do rapaz que mora aqui.
  9. – Como não está autorizada esta visita o Senhor está preso! Pai! Um homem com uns cinqüenta anos de idade pai de outro com 40! Ah! Ah! – e saíram rindo, levando o homem gordo consigo no carro da polícia, pois estavam todos à paisana. O Senhor começou a F... cedo, disse o policial... E riam a valer... O seu "filho" está enroscado, ele vai ter que dar muitas explicações...

Capítulo IV

A cela.

  1. O homem gordo apresentou os documentos na prisão. Não acreditaram. Ele deveria ter aparência de um velho com 71 anos de idade. Mas aparentava 47. Verificaram as impressões digitais, método antigo, mas a que ainda podiam recorrer. Confirmaram.
  2. – O governo central disse que o Senhor será transferido para a Polícia da Inteligência Americana, no prédio central, por se tratar de um caso especial, disse o Diretor da prisão ao homem gordo.
  3. – Os americanos vão ficar muito interessados neste caso – acrescentou um homem com cabelos grisalhos, que mais parecia um galo que um homem.
  4. Foi exatamente 1 hora de viagem, entre ruas lindíssimas, prédios muito bonitos, tudo limpo, moderno e asseado. Porém, de repente, nos últimos 35 minutos, passaram por um bosque e ao sair dele via-se ao longe um monte de casebres muito pobres. Era uma favela, poluída e pobre como as que existiam no tempo em que o homem gordo ainda não havia viajado para o futuro. Trinta minutos viajando por entre favelas horríveis, com gente muito pobre e miserável... "As coisas não mudaram muito" – pensou o homem gordo – " e provavelmente estão piores do que eram antes...
  5. No centro, na Polícia da Inteligência Americana, estava um distintivo sobre a porta central: US POLICE.
  6. O homem gordo foi levado a uma cela, direto, sem consultas nem apresentações. Ficava no décimo segundo andar. Era uma cela limpa, com apenas uma cama, onde ele pode se deitar e descansar. Era uma cela pequena. Dava uma opressão no peito e o homem gordo começou a se sentir mal.
  7. Chamou o guarda. Ele nem respondeu.
  8. Fechado, com uma mínima visão da luz exterior, que vinha da rua, teve que suportar mais dois dias até que fosse atendido por um agente da polícia.
  9. – Este seu caso cheira a cocaína – disse o agente.
  10. – Vocês estão enganados e se soubessem a verdade não permitiriam que eu ficasse preso. Está acontecendo uma injustiça! – exclamou o homem gordo.
  11. Foi interrogado, perguntaram-lhe se era viciado em drogas ou algum vício.
  12. – Só o cigarro, e estou deixando de fumar.
  13. – Seus documentos não correspondem à realidade. É um documento antigo, provavelmente falsificado.
  14. – Não é falsificado, é a pura verdade!
  15. – Então o Senhor viajou do passado até nós...
  16. – Sim.
  17. – Como?
  18. – Nem eu sei como! – e o homem gordo contou sua história.
  19. – O Senhor vai ficar em quarentena, até que possamos desvendar o caso. E não se ache, meu caro, por que o Senhor está aqui apenas por que é parente ou diz ser parente do rapaz que trabalha no Campus da Universidade.

Capítulo V

Notícias.

  1. Nisso, o homem gordo foi levado a um refeitório, e enquanto jantava ligaram um aparelho de TV, muitíssimo parecido com os nossos aparelhos de TV. Estava no ar um noticiário da Rede Mundial de Televisão. Ficou sabendo que havia muitíssimos problemas no mundo. A população mundial chegava a 800 bilhões de almas. A maior parte pobre e sem o que comer. Era o reino da morte. E do sofrimento. As duas grandes e únicas potências que haviam sobrevivido lutavam por água desesperadamente. Máquinas lutavam em lugar de homens, mas ainda havia muitas mortes causadas pela guerra e esta já se travava há cinco anos. A qualquer deslizamento de terra, ou qualquer terremoto que houvesse, milhões morriam instantaneamente. E a indiferença havia se tornado uma coisa comum. Tudo isso em apenas vinte e quatro anos que ele havia avançado no tempo.
  2. A maior parte da humanidade era pobre e vivia na miséria. As pessoas nasciam e morriam aos milhões, e num estalar de dedos podiam-se contar milhões de mortes e de nascimentos. A humanidade perdera o controle sobre si mesma.

Capítulo VI

A fuga.

  1. O policial que guardava o cárcere levou o homem gordo para a cela e lhe disse que na manhã seguinte ele teria uma entrevista com o homem que dizia ser seu filho.
  2. Porém, esqueceu a chave na porta da cela. Devia estar tão cansado que não teve tempo nem para pensar no que estava fazendo e foi dormir. Esqueceu todo o molho de chaves na porta. O homem gordo escapou para o pátio. Escondeu-se na garagem. E quando menos esperavam, tomou do volante de um caminhão e dirigiu-se para fora da prisão, para fora do prédio onde ficava a US Police.
  3. Na primeira oportunidade, como ainda estivesse em seu bolso o endereço de seu filho, pegou um táxi e se dirigiu para a casa do mesmo. Lá chegando reencontrou o filho, pois era no Campus da Universidade, e era bem de manhã cedinho quando chegou.
  4. Ao vê-lo, o rapaz ficou apavorado:
  5. – Como é que nós saímos desta situação? Estou sendo alvo de um inquérito administrativo, pois trabalho na Universidade, e não sabem como deixei o Senhor entrar aqui no Campus. As visitas são proibidas. Tanto de parentes como de qualquer outra pessoa!
  6. Nisso o carro da polícia aparece ao longe na rua e eles entram rapidamente.
  7. – Precisamos voltar para o sul, para pelo menos reencontrar o lugar de onde viemos.
  8. – Eu lhe dou o dinheiro – disse o filho do homem gordo. São mil dólares que economizei para minhas férias. O Senhor precisa ir logo. Depois eu vou atrás, para reencontrá-lo.
  9. – Enquanto ele – o homem gordo – saía a fim de pegar um táxi, a moça, que havia ficado escondida as três ou quatro noites na casa do filho dele, saiu correndo ao seu encontro bem quando os policiais atiravam de cima de um carro de polícia. Os tiros pegaram-na em cheio, bem no peito. Ela morreu.
  10. – Deus do céu! – exclamava o homem gordo. Deus do céu! Que fizemos?

Capítulo VII

Conclusão

  1. – FIUUUUUMMMMMM. Outro sinal eletrônico soa e os dois desaparecem do futuro, voltando para um lugar diferente de todos em que haviam estado. Ele com ela nos braços, ainda sangrando as balas que a atingiram.
  2. – Onde estamos? E agora? O que querem de nós?
  3. – Nós somos viajantes do futuro e previmos que isso iria acontecer consigo.
  4. – Mais viajantes do futuro? – exclamava o homem gordo, ainda com a moça nos braços, chorando!
  5. – Não se preocupe, nós vamos devolver vocês dois sãos e salvos para o seu tempo. Por enquanto saiba que a morte não existe mais, pois somos de um futuro mais adiante que este. Não, em nosso tempo não existe morte - e ressuscitaram a moça diante dos olhos dele!
  6. Curioso e como é natural a curiosidade do ser humano o homem gordo perguntou aos três homens que vieram de um futuro distante:
  7. – E como são as coisas neste futuro maravilhoso?
  8. – Vamos lhes contar – disse um deles.
  9. – Mas antes voltemos ao seu tempo, lá lhe contaremos tudo... – disse o segundo homem.
  10. – Tenha calma que demora só uns cinco minutos – disse o terceiro.
  11. Voltaram para o seu devido tempo. O cientista maluco teve notícias dos dois, mas estava em um hospital psiquiátrico por demorado tempo devido a ter trabalhado em seu projeto sem descanso, o que esgotara suas forças.
  12. Resta-me dizer que o homem gordo voltou ao seu tempo...
  13. Viveram felizes por vinte e quatro anos, e o homem gordo ainda viveu mais quinze anos com a moça bonita, com quem se casou e teve dois filhos, um menino e uma menina.

Capítulo VIII

Vida no futuro!

  1. Um deles começou a falar, enquanto almoçavam na casa do homem gordo.
  2. "No futuro a morte já não existirá. Haverá paz em todo o mundo. Como diz na Bíblia, nenhuma nação não erguerá mais a mão contra outra nação... Os homens comuns e os homens mais cultos e inteligentes do mundo tomaram o poder. Eram cidadãos comuns e cientistas, mas não quaisquer cientistas... Eram cientistas Cristãos!
  3. Eles bolarão um plano para organizar um governo que realmente funcionará. Colocarão nos postos importantes pessoas chave, honradas e honestas, que não roubam e não têm maiores interesses nos seus governos e por isso trabalharão de graça. Seus turnos de trabalho serão de três horas por dia; o restante do dia eles viverão para trabalhar para si mesmos. Eles poderão ter empregos normais e tudo o mais, que não interferirá no governo qualquer atividade que eles tiverem. No governo não ganharão nada. Será trabalho gratuito.
  4. Estes cientistas serão os que primeiro conseguirem identificar o gene da morte em seres humanos e animais e plantas. Porém, por necessidade, modificarão apenas a espécie humana.
  5. Os desertos do mundo inteiro serão cultivados com irrigação. A água virá dos oceanos, e será dessalinizada e alimentará os bilhões de seres humanos que então existirão.
  6. Num futuro não muito distante o homem conseguirá atingir o Planeta Marte e fará colônias lá. E também em outros planetas habitáveis. Serão colônias movidas a energia da fusão nuclear controlada, nestes planetas, e tudo será como eu disse.
  7. Já a qualidade de vida das pessoas será muitíssimo boa; a educação e a formação de jovens e adultos serão gratuitas e públicas em todos os países do mundo. Máquinas ajudarão os homens em suas atividades mais difíceis e já não existirão trabalhos insalubres. Os homens e mulheres terão as mãos livres para atividades como a arte e os esportes e não faltarão alimentos para ninguém no mundo inteiro. Barreiras comerciais e alfandegárias já não existirão. O livre comércio será uma realidade. E as indústrias serão planejadas não visando o lucro, mas as necessidades de cada nação. Os conhecimentos estarão disponíveis a todos e já não existirão mais segredos tecnológicos. Os homens e mulheres não poderão ficar muito ricos e não existirá mais a miséria...
  8. Os governos serão governos de colaboração e quem não quiser colaborar não comerá o pão da comunhão!

E este futuro maravilhoso será uma prévia apenas do que será quando Nosso Senhor Jesus Christo voltar. Aí, então, haverá verdadeira Justiça e todos serão felizes!"

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